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#2 Ansiedade

Um dos sintomas que mais perturba a saúde mental é a Ansiedade. Com a situação pandémica a ansiedade tornou-se ainda mais recorrente, abrangendo as diferentes faixas etárias. Não seleciona, não escolhe o momento de surgir no organismo e não tem qualquer pudor em se manifestar quer de dia ou de noite. Quem sofre de transtorno de ansiedade sabe do que falo. Embora pareça um tema generalizado ou associado a quem é mais emocional, isso não é verdade. Para alguns é tabu, pela força que representa no seu próprio corpo ou por afetar a quem está perto, para outros parece ser algo ligeiro “um problema de nervos”.



O que é ansiedade? A pessoa tem a sensação de perigo, sente ameaça à sua integridade física, moral ou psicológica, esse sentimento de ameaça pode ser inconsciente (i.e. ela não sabe que sente isso). O sentimento pode surgir do medo de perder algo, como a saúde, ou o emprego, ou um relacionamento; ou medo de falhar – numa prova ou num projeto importante para si. Ao percecionar esse perigo o foco é a perda, a ameaça, e passa a haver uma tentativa persistente de controlo. Como nada é controlável, torna-se um ciclo vicioso entre o medo de perder / falhar / ser atacado e a necessidade de controlar / proteger. O que acontece é que a mente se vicia nesse pensamento e passa a automatizá-lo, já não precisa de pensar sobre isso porque está constantemente a sentir esse “peso” no peito, no corpo. Aquilo torna-se real. O medo torna-se real. E, portanto, deixa de haver capacidade de discernimento sobre o que de facto está a acontecer e o que é “fantasia da mente”. Esta é sempre uma projeção no futuro, de algo que pode vir a acontecer, projeção no futuro e nada de bom, ou mesmo catastrófico. Normalmente, também, baseada em algum trauma ou crença vivenciada no passado, se no passado aquilo foi possível acontecer então a pessoa tende a preparar-se para não ser apanhado desprevenido e sofrer. Acaba assim por manter o sofrimento mental. Só que a ansiedade não se resume a uma questão mental, é também fisiológico. A pessoa sente no seu organismo os efeitos nefastos desta “anomalia no sistema”. Pode provocar sintomas físicos, como arritmia/taquicardia, vertigens, tonturas, tensão muscular, sudação excessiva, dificuldades respiratórias, perturbações do sono e da alimentação... Do ponto de vista psíquico sente-se angustiada, frustrada, irritada, com oscilações de humor, tremores, pode ter dificuldade sociais, como relacionar-se com outras pessoas ou estar em público.


É importante diferenciar situações em que é normal sentir-se ansioso, de situações em que a ansiedade se torna uma doença. Na vida de todos nós há situações em que nos sentimos ansiosos. São situações transitórias, ou crises de vida, em que a ansiedade se manifesta porque existem mudanças ou exigências. Se a pessoa tiver consciência de como se sente pode usar estratégias para minimizar a ansiedade ou compreender os receios que possam estar por detrás. Outra situação, é a ansiedade-traço, já está instalada como um traço de personalidade da pessoa, ela funciona com aquela característica de forma generalizada na sua vida, normalmente por já ter uma predisposição para desenvolvê-lo. Nestas situações passa a considerar-se clinicamente como um transtorno de ansiedade.

Muitas vezes a pessoa recorre ao médico pelos sintomas físicos, sendo também comum o recurso a medicação. Ainda que possa ajudar a trazer mais qualidade de vida, e do sono, a medicação não resolverá as causas da ansiedade (os pensamentos, os medos e os traumas). Essas devem ser tratadas por profissionais da saúde mental, como psicólogos clínicos. Pode também usar estratégias de gestão das emoções e de controlo de ansiedade, como a respiração consciente (parar – inspirar -parar – expirar), contacto com a natureza (tirar algum tempo por dia ou por semana para ter um contacto com a natureza), fazer caminhada, beber água, higienizar a mente não falando de maledicência nem de aspetos negativos da vida, focar-se em coisas boas que tem na sua vida, meditar / orar. Não é fácil a libertação da ansiedade, mas é possível. E o truque mais simples e, talvez, dos mais eficazes é começar por agradecer todos os dias: 1) porque acordou e 2) se o seu corpo está autónomo e com capacidade já é um bónus maravilhoso; 3) pelas pessoas boas que tem na sua vida e 4) se elas têm saúde é fantástico; 5) pelos bens que tem e que lhe permitem nutrição, conforto e segurança, e tudo o resto que ao olhar para a sua vida estará grato. Sugiro que comece o exercício por dizer ou escrever todas as noites 5 coisas pelas quais está grato nesse dia. E o que isso tem a ver com a ansiedade? Experimente e veja por si.


Dra Anabela Vitorino Alves


 

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