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# 11 Nenhum psicólogo pode substituir o “não tempo” dos pais

Entre compromissos laborais e familiares, integrar as crianças em atividades (infinitas), esforço em dar a melhor estrutura de desenvolvimento para os filhos, ter tempo para si mesmo e manter a estrutura da família, no final de cada dia não se sabe se o dia pareceu mais uma viagem na montanha russa ou no comboio-fantasma.

Na nossa prática clínica, não temos grandes dúvidas de que os pais hoje estão, de forma geral, mais sensibilizados para a satisfação de vida dos seus filhos, como referem: «“que se encontrem” e se sintam felizes». Mas, também, cada vez mais encontramos crianças e jovens mais infelizes, sem grandes perspetivas, o que era raro encontrar há alguns anos atrás. Neste peso da equação teremos que colocar os anos pandémicos que vieram aflorar estes sentimentos de não-pertença, de vazio, tristeza e depressão. Contudo, é importante analisar o sistema, família.

Em muitas das situações há um denominador comum, o “não tempo” dos pais. E não se trata de quantidades ou qualidades, e sim verdadeiramente estar. Os pais até podem estar, e até lhes poderíamos chamar tempo de qualidade, não fosse o facto dos pais terem nas suas mentes pensamentos contínuos intrusos, estão, mas não estão. Porque mesmo estando, estão a responder a emails, a pensar como resolver determinadas questões, a confraternizar com os amigos, a estudar para a próxima avaliação. Nenhum psicólogo substituirá o que só os pais podem dar: tempo aos filhos.

Curiosamente, em média, as mães passam 50 minutos mais com os filhos do que na década de 60, conforme um estudo publicado no Journal of Marriage and Family (2018) o qual indica que os pais também passam mais tempo, partilhando tarefas, com os filhos. Sabe-se que os pais hoje são mais informados sobre a importância das atividades parentais, e querem fazê-lo! Mas então porque temos tantos jovens a referirem a pouca disponibilidade dos pais? Numa outra pesquisa feita pela AVG Technologies, 54% das crianças entrevistadas afirmaram que se «sentiam menos valorizadas pelos seus pais, pois tinham que dividir o tempo deles com uma tela. (tecnologias)». E as refeições, quantas são realmente feitas em família? Sem telemóvel. E o tempo para conversar?

Embora os pais, quando tomam esta consciência, tendam a sentir-se mal e frustrados por não conseguirem desfrutar mais do tempo com os filhos, é-lhes difícil a mudança de comportamento e rotinas, sobretudo pela estrutura que temos, nomeadamente laboral. Procurando uma das respostas por que a Finlândia (considerado o país mais feliz do mundo, segundo os dados do World Happiness Report, 2018) contraria esta tendência lê-se que “ao contrário da maioria dos países, não se trata dos direitos da mãe, dos direitos do pai, ou apenas dos direitos de género. Trata-se sim dos direitos das crianças. As decisões são tomadas pensando sempre naquilo que é melhor para os filhos.” Tal como em tudo, existe uma co-responsabilidade das estruturas macro da sociedade e das estruturas do individuo. Não nos podemos esquecer que o individuo (pai / mãe) está imergido na matriz e, ou toma consciência por si mesmo e liberta-se no que pode e consegue, tentando ter uma estrutura de vida diferente, que privilegie as suas prioridades; ou dificilmente conseguirá sair, e andará na (e com a) corrente.

Se tem dúvidas sobre as suas prioridades e o tempo que lhe dedica, deixo um exercício que talvez o ajude: comece por se sentar e desacelerar, pegue numa folha e divida em duas colunas. Na primeira escreva como é o seu dia –atividades e tempo para cada uma-, na segunda coloque as suas prioridades e assinale a ordem da mais importante à menos importante. De seguida, olhe para a sua folha. Por fim, tire as conclusões, por si.

 

Dra Anabela Vitorino Costa


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