A família é um sistema e como todos os sistemas sustenta-se pela dinâmica dos seus próprios elementos. Supõe-se por isso que cada elemento assuma o seu papel, pois num sistema quando um dos elementos não o assume as suas tarefas, a dinâmica tende ao desequilíbrio. No sistema família este desequilíbrio é manifestado pela perceção de sobrecarga de uns, de apatia de outros, que na maioria das vezes reflete-se em problemas na comunicação, desajustamento psicológico num ou vários elementos da família, independentemente da idade. Quando uma criança ou adolescente apresenta desequilíbrio psicológico, a dinâmica familiar não está imune a essa problemática.
Se a criança ou adolescente recebe tudo feito para ele no seio familiar, quando, já com idade para entendimento, não lhe são atribuídas funções e responsabilidades na dinâmica familiar, isso repercute-se em apatia e sentimento de não pertença (identidade naquela família – a sua primeira comunidade) passando quase sempre a procurar fora o que não encontra dentro desse espaço. Pertença. Só que quando vai procurar fora, vai em carência. E a carência é o perigo número um para qualquer relacionamento, seja com quem for (entre pessoas) ou com o que for (exemplo vícios). A carência traz consigo a armadilha de insatisfação permanente: por mais que se receba, permanece-se vazio. E fica instalado o ciclo. E mesmo os que permanecem em casa, olhe-se a forma evasiva como se entregam aos seus jogos ou aos seus “nada para fazer”.
A estrutura família mudou muito em poucos anos, como o ser se desenvolve nem tanto. Neste desenvolvimento mantem-se a pertinência de se perceber que se é importante numa dinâmica. Que se faz falta quando não se está. E para se sentir que se faz falta terá que se ter tarefas que contribuem para a dinâmica. Na criança, seja arrumar o seu quarto, participar nas tarefas da cozinha, ajudar a cuidar dos animais. O que seja que faça sentido para cada família. No adolescente acresce a responsabilidade de contribuir para o quotidiano da família. Da mesma forma os adultos da família assumem a responsabilidade de escutar, de estar, com estas crianças e adolescentes. Cada vez mais se assiste a casas em que as refeições não se partilham, nem os hobbies e nem sequer há encontros. Não há momentos em que se converse, a não ser falar dos problemas. Mas a vida é feita também de soluções, de capacidade de criar novas ideias. Para isso, a família terá que estar focada em objetivos comuns, harmonizados com a capacidade de sentir, ver e ouvir. Essa é a responsabilidade de cada elemento. O que mudaria agora na sua família?
Dra Anabela Vitorino Costa
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