As circunstâncias vividas na pandemia é um dos fatores atribuído ao crescente número de distúrbios nos jovens, como a ansiedade, depressão, perturbação obsessiva compulsiva, no entanto já o relatório de 2019 (OMS) referia que no mundo “um em cada sete jovens entre os 10 e os 19 anos tem um distúrbio mental. Quase 46 mil adolescentes morrem de suicídio por ano.” Esta realidade tem vindo a aumentar e os recursos e as estruturas de suporte não têm parecido corresponder às necessidades. O recente parecer emitido pela UNICEF (out.2021) sobre a saúde mental nos jovens reitera o impacto negativo para as economias devido à falta de saúde mental nos jovens, sendo manifestamente preocupante as suas consequências futuras sociais e económicas (“quase 390 mil milhões dólares por ano”).
Continuamos a correr atrás do prejuízo, acrescentando expressões, “opiniões generalizadas”, de que os jovens só querem estar nas tecnologias, de que os jovens são inertes e vazios de talentos e opiniões. Sem compreendermos que os jovens são, também, o produto das suas famílias, das suas escolas e das suas sociedades. Questiono-me sempre que oiço destas opiniões pejorativas generalizadas: não deveríamos antes ver os três dedos apontados para nós, - os mais “crescidos” os adultos, os pais, os educadores -, sempre que lhes apontamos um dedo a eles, os jovens?
Que sociedade somos se não compreendemos que os jovens, esses que criticamos por não aprenderem e não terem opiniões porque passam horas nas tecnologias, já nasceram numa era tecnológica, que isso faz parte dos sistemas neuronais deles e que somos nós, nas nossas estruturas sociais e políticas de base, que deveríamos avançar, criar condições ajustadas aos seus talentos e capacidades. Virão novas profissões, mas nós continuamos a manter a mesma estrutura de ensino, já desadequada há 25 anos (pelo menos) em que o espírito critico e audaz nos era suscitado por um ou outro professor, fora da matriz. E hoje, se não me engano, assim se mantém. A nossa mente é naturalmente criativa, ela procura sempre soluções e criar novas formas, mas se esta mente criativa é colocada em escolas que apelam à avaliação por memorização, o que se faz a esta mente? Fecha-se. E o que faz uma mente fechada que tem jogos onde pode fazer fuga ao mundo “real”? Vai entreter-te. E por ali fica. Esta é, na minha perspetiva, apenas uma das pontas do iceberg (porque vejo este iceberg com muitas pontas). Sendo um dos fatores que favorecem o desenvolvimento de perturbações mentais e “vazios emocionais” nos jovens. Poderia apontar ainda outros, como: o tempo das famílias, as vidas ansiosas em que são gerados e educados, a falta de fé e confiança geral, a falta de empatia numa sociedade pouco grata. Os jovens vêm com capacidades para se expandirem em criatividade, talento e amor, se assim nos permitirmos dar-lhes a mão, ao invés de lhes apontarmos o dedo. Sejamos crescidos para ver.
Dra Anabela Vitorino Costa
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