Com o avanço tecnológico, as vidas dos jovens e dos adultos, dos filhos e dos pais, fica cada vez mais integrada nas novas tecnologias, nas redes sociais e nas trocas de mensagens on-line. Mais ainda na atualidade, nos contextos de confinamento em que vivemos, sendo para os jovens e para muitos adultos a única forma de interação social.
Já há alguns anos que falamos de cyberbulling, sendo cada vez mais preocupante esta forma de agressão praticada através das tecnologias de informação e comunicação. É preocupante nas idades mais jovens, e cada vez mais jovens mesmo, mas é evidente também entre adultos. Basta darmos uma olhada pelas redes sociais e dar conta da forma gratuita com que as pessoas se ofendem e não têm qualquer pudor em utilizar expressões de humilhação e de agressão verbal sobre outros.
De facto, a nossa preocupação incide nos jovens, pela fragilidade psicológica, porque ainda não têm uma personalidade definida que lhes permita dizer “não”, porque são, na verdade, os mais expostos e vulneráveis aos movimentos tecnológicos. Mas não deixo de sentir a necessidade de focar o papel do adulto nesta questão, do adulto que, sobretudo, deveria proteger, incentivar aos valores de respeito por si mesmo e pelo próximo e que, nas suas ações, revela o contrário. Ao ler esses comentários inevitavelmente questiono-me sobre como poderá aquela pessoa proteger e transmitir uma atitude de respeito. A responsabilidade de se ser pai / mãe / educador não termina, nunca, numa transmissão de ideias, ou diálogos sequer. Requer muito mais responsabilidade que isso, requer atenção à forma como interage com os outros, pois é na ação que demonstra o respeito por si mesmo e pelo outro.
As crianças acedem às tecnologias cada vez mais cedo (agora é crucial, com a escola online), facilmente desencadeiam formas de comunicação mais abusivas e/ou opressivas, uns para com os outros. A maioria dos pais nem vê as mensagens que são trocadas. Os mais velhos, adolescentes porém, criam identidade de grupo através das parcerias que vão fazendo nos grupos nas plataformas de conversação. Maioritariamente, passam horas sozinhos nos quartos, trocam mensagens, lêem o que lhes escrevem, sofrem sozinhos. Ninguém ouve, ninguém sabe. Até porque é fácil apagar tudo de seguida. Mas da mente não apagam.
Passam os dias (e muitas vezes as noites) envolvidos em vergonha e sentimento de humilhação. Não há sentimentos mais opressivos e esmagadores do que a vergonha e o sentimento de culpa. Pois neles mescla-se a crença de que se fez algo errado, de que não se é suficiente ou não presta. A partir desse sentir, trama-se a oportunidade de acreditar que pode, que tem direito de dizer não, de pensar de forma diferente e de pedir ajuda. Caem por terra todas as frases que alguém lhe disse (se é que disse!) de que era bom, capaz e amado. Uma das maiores dificuldades verificadas em situações de cyberbullying (assim como no bulling) é o silêncio que envolve este tipo de violência.
Mas… existem os adultos, porque ele (a vitima) não lhes conta? Porque não acredita que vão conseguir ajudar. E é nesta reflexão que, parece-me, é importante ficarmos. Por que motivos a criança, o adolescente, o jovem tem dificuldade em acreditar que conseguimos ajudar? Esta é uma responsabilidade de todos nós, pais, educadores, profissionais, compreender se estamos suficientemente atentos aos mais jovens, se sabemos o que expressam no silêncio. E se, ao sabermos, tomamos as medidas que os ajudem a confiar que são protegidos.
Dra Anabela Vitorino Costa
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